quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Para os professores do desinteresse.

  Dizemos que são boas as virtudes de um homem não pelos resultados que possam propiciar a ele, mas sim pelos resultados que podem ter para nós e para a sociedade; no elogio da virtude nunca se foi muito ''desinteressado'', nunca se foi muito altruísta!

  Ter-se-ia observado, se assim não fora, que as virtudes (Como a aplicação , a obediência, a castidade, a justiça, a piedade) são geralmente prejudiciais a seu possuidor, uma vez que são instintos que nele reinam com muita violência, muita avidez e que não querem de modo algum deixar-se contrabalançar razoavelmente pelos outros. Quando se possui uma virtude, uma verdadeira virtude, uma virtude completa (não uma pequena tendência para a sua posse), se é vítima dessa virtude! É exatamente por isso que o vizinho a louva!

  Louva-se o homem zeloso se bem que seu zelo lhe estrague a vista e seja obrigado a gastar obrigado a gastar espontaneidade e o frescor de seu espírito; elogia-se , lastima-se o jovem que se ''matou de trabalhar'' porque se pensa: ''Se o conjunto social de perder sua melhor unidade, trata-se de um pequeno sacrifício, apenas! É aborrecido que esse sacrifício seja necessário! Mas seria muito mais aborrecido que o indivíduo pensasse de outro modo e que emprestasse maior importância a se conservar e a se desenvolver que trabalhar para todos!'' Não se lastima esse rapaz por ele mesmo, portanto, mas porque sua morte obriga a sociedade a perder um instrumento submisso, sem contemplações consigo mesmo, resumindo, ''um'' homem honesto, como se costuma dizer.

  Talvez se possa inquirir se não teria sido preferível, no interesse da sociedade, que esse rapaz tivesse trabalhado com maior prudência e se tivesse conservado mais longamente; chega-se a concordar que assim tivesse sido, mas considera-se essa situação inferior à outra em que houve sacrifício e à opinião da besta social, do animal que deve se imolar revelou-se benefício mais alto e mais durável.

  Eis o que dica a contradição fundamental dessa tão pregada moral, em nossos dias: seus motivos são opostos a seu princípio! O argumento de que ela se quer servir para legitimar-se é recusado pelo seu critério de bem! Para não colidir com sua própria moral, o princípio ''deves renunciar e sacrificar a ti mesmo'' só poderia ser decretado por um ser que renunciasse. Aplicando-o ao seu proveito pessoal e pelo sacrifício exigido aos indivíduos talvez tivesse motivado sua própria queda. Mas, desde que o próximo (ou a sociedade) vos recomendam o altruísmo em virtude de sua utilidade, é o princípio oposto que aplicam, a saber: ''Deves procurar teu proveito pessoal mesmo à custa dos demais'', apregoam portanto com o mesmo fôlego, o ''tu deves'' e o ''tu não deves''.


Por: Uriel Dias de Oliveira

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